terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O MILAGRE DO OVO QUEBRADO





O MILAGRE DO OVO QUEBRADO
                                  
            A pergunta de Taunay Daniel “Como dizer o indizível?” é mais do que apropriada neste meu intento, já que as vivências pelas quais tive o privilégio de passar nestes meses de abril e maio me levam a uma conclusão inquietante: “O milagre do ovo quebrado”.
            É bem interessante pensar de forma linear no que diz respeito à ordem de como estes três primeiros seminários aconteceram em minha vida: “A Arte de Viver em Paz”,  “Ciência e Espiritualidade”  e “Danças Circulares Sagradas”. Como não havia feito contato com a Unipaz em março, não assisti à primeira, por isso para tentar ter uma parca idéia desta vivência, li avidamente o livro “A Arte de Viver em Paz”, de Pierre Weil. Este meu primeiro contato através de um livro com o universo da Unipaz foi emocionante, uma descoberta de uma estrutura real, quer dizer, dentro daquilo que se é normalmente considerado “real” pela física clássica: uma casa onde pessoas se encontram para discutir, aprender, compartilhar conhecimentos acerca de perspectivas de um mundo que queremos. Uma casa onde finalmente posso estudar algo que escolhi e tanto sonhei, mesmo não tendo consciência plena deste desejo. Posso dizer que o livro também  foi uma destas “materializações” proporcionadas pela Unipaz. Informações nele contidas, tais como “A Declaração de Veneza”, a “Carta da Transdisciplinaridade”, a “Declaração das Responsabilidades Humanas para a Paz e o Desenvolvimento Sustentável”, “Os Quatro Pilares da Educação”, a “Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz” e o “Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-Violência” foram materializações magníficas deste mundo que começa a emergir de um plano não-físico em minha mente para este plano. É como se fosse uma ânsia em meu âmago  finalmente saindo e indo à busca daquilo que necessita e deseja e conseguindo ter os primeiros indícios desta busca.
            Quando estive presente no seminário de Taunay Daniel, foi como se germes de idéias, pensamentos que já existiam em mim fossem de encontro ao que ele falava, chocando assim insight com conhecimento, música, estórias extraordinárias, receitas de sopas, criando assim possibilidades fora de mim, potenciais de transformação exterior a mim, mas com grandes probabilidades de eu conseguir incorporá-las. A forma como ele desconstrói toda a lógica aristotélica sobre a qual estamos todos imersos desde que  nascemos é fundamental para que nos libertemos destas correntes invisíveis e para preparar-nos para alçar vôos inimagináveis através da física quântica. Aqui está uma grande ironia da vida, pois a física clássica que já nos forneceu tantas respostas, proporcionando respostas para tantas inquietações, mas que ao mesmo tempo conseguiu nos aprisionar neste contexto determinista no qual nos encontramos, se transforma e nos liberta para um universo com mais mistérios que podíamos imaginar, até nos reencontrarmos com aquilo que nos é mais caro: o Sagrado.
            Confesso que este Sagrado até há pouco tempo estava muito bem escondido dentro de mim, que acreditava somente naquilo que pudesse pegar em minhas mãos e transformar. A esfera do “indizível” estava bem fora de meu panorama, de meu universo e para tanto cerquei-me de todas as garantias de que isto não fosse questionado, estando em ambientes, com pessoas, contextos que me remetiam somente a esta crença. E as poucas chances disto ser questionado, eram totalmente esmagadas por minha lógica inabalável, apesar de todas as experiências que já tinha tido ao longo de minha vida me chamarem para o encontro deste indizível.  E aqui me encontro neste momento, num momento de religação com o meu Sagrado, no momento do “milagre do ovo quebrado”...
            Neste terceiro seminário sobre Danças Circulares, enfim, esta tríade se completou: o indizível se realizou de forma silenciosa, elegante, introspectiva e inquestionável, banhada a algumas lágrimas incontroláveis em meio às danças realizadas pela Renata.  Meu corpo absorveu algo que até agora estou digerindo, sem passar de forma alguma pelo meu racional, pelo meu filtro lógico, e indo desembocar diretamente em meu coração, completando-me, integralizando-me e trazendo mais lágrimas neste momento que escrevo.
            Agora sei  como a Beleza me reconecta com o Todo, sentindo-me completamente imersa num ambiente onde tudo me converge para o inevitável: que sou parte do Todo e ao mesmo tempo o Todo sou eu. É uma mágica maravilhosa, onde a geometria, música, ritmo, o indivíduo, o grupo, convergem para uma respiração, um pulsar, uma forma perfeita respira, um momento único e belo desabrocha no Universo. Posso dizer que pude vivenciar a Perfeição neste momento de reconexão profunda comigo mesma, com o grupo, com meus antepassados e com o Universo. E um profundo sentimento de gratidão me inundou por eu estar naquele momento, naquele lugar com todas aquelas pessoas e perante tamanha Beleza.
            O “milagre do ovo quebrado”? Bem, aqui está um fato que foi a peça final desta tríade: neste último seminário a Cris fez uma breve apresentação sobre a arte de confeccionar os ovos na Lituânia. Ao final desta apresentação ela realizou um sorteio de onze ovinhos, lindamente confeccionados, e eu, após uma torcida desesperada de conseguir um deles, fui agraciada. Trouxe o ovo na viagem de volta a Campinas como se fosse um prêmio dos deuses, como um símbolo de um seminário maravilhoso que me encantou. Pois bem, chegando em casa, minha querida companheira Maria me recebeu de braços abertos, com muitas saudades e carinho e com um jantar maravilhoso à minha espera. Eu me encontrava num “estado de graça”, ainda sob efeito das Danças Circulares. Peguei o ovinho, mostrei-o a ela e coloquei-o em um pequeno altar que tenho em nosso quarto. Ela, ao arrumar a cama, acidentalmente, quebrou-o e veio até mim comunicar o fato... É claro que fiquei dilacerada, como se tivesse perdido o grande símbolo daquilo que me encantara havia poucas horas e reagi furiosamente, como um animal enraivecido. Fui dormir com raiva no coração. Sonhei. Vi um animal enfurecido atacar e matar algumas pessoas e quando percebi que ele se virara contra mim para fazer o mesmo, peguei uma lança, sem medo, raiva ou fúria, e matei-o. Ao matá-lo, despertei, com um sentimento de profunda paz e vários rostos de pessoas que eu havia “matado” dentro de mim vieram à tona e lembrei-me delas... e também lembrei-me de pessoas novas em minha vida, de relações que estou estabelecendo e que me são caras e entendi que o que realmente importa é o está sendo criado, e não o que as representa. Adormeci novamente e acordei com um profundo sentimento de gratidão por minha companheira e por toda a situação.

Trabalho transdisciplinar 
Mary Fujimori

Um comentário:

Glorinha disse...

Que lindo escrito, fiquei emocionada!
Parabéns querida Mary

Ivone, Parabéns por esse lindo blog

um beijo e abraço no coração de vocês!
Glorinha_b