Seminário
XI Processos em Educação e
Desenvolvimento: educar para a excelência humana
Laureano Guerreiro
Reencantar
Para as crianças
tudo é espantoso:
um ovo, uma
minhoca, [...], uma concha de caramujo,
o voo dos urubus, os pulos dos gafanhotos,
uma pipa no céu,
um pião na terra:
coisa que os
olhos eruditos não veem. (Rubem Alves)
Do seminário Processos em Educação e Desenvolvimento:
educar para a excelência humana, o facilitador alertou para a
preciosidade que é a criança e que devemos estar atentos para não estragar o
que ela é por si só.
Criança é
Criança...
é um sentimento grátis
de felicidade!
Um jeito mágico
de tranquilidade.
Um toque clássico
Um jeito lúdico
de jogar o jogo cênico
da vida.
Criança é...
chegar
pular
cantar...[...]
Alda
Correa Mendes Moreira
Então, diante da
preciosidade que é uma criança, lembrei-me do livro Ensinar, cantar, aprender
de Rubem Alves (2008), que entende que educador é qualquer pessoa que ama
criança e relata sobre a deformação que a escola pode imprimir nas crianças
“[...] crianças nascem de madeira e só ficam de carne e osso depois de passar pela
escola. Mas frequentemente acontece o contrario: nascem de carne e osso e ficam
de madeira depois de passar pela escola.” (ALVES, 2008, p.68) “As pessoas
nascem com os olhos maravilhados das crianças. Pela educação vão ficando cegas.
[...]” (ALVES, 2008, p.29) O autor (2008) manifesta sua opinião sobre o resultado
final da fase estudantil: “Parece que as escolas são máquinas de moer carne: numa
extremidade entram as crianças, com suas fantasias e seus brinquedos. Na outra
saem rolos de carne moída, todos iguais, prontos para o consumo, “formados” em
adultos produtivos.” (ALVES, 2008, p.43) Compreende a palavra formar e
desenformar assim “[...] formar é colocar na forma e fechar. [...] Educar é
abrir. Educar é desenformar [...]” (ALVES, 2008, p.50)
O autor (2008) cita a
existência de dois tipos de escolas: há escolas que são gaiolas e existem para
que os pássaros desaprendam a arte do voo. “Pássaros engaiolados são pássaros
sob controle.” (ALVES, 2008, p.11) Por outro lado, há escolas que são asas e amam
pássaros em voo. Talvez essa escola se inspire na educação holística. Para
Guerreiro (2009), a educação holística pretende realizar uma “revolução das
sensibilidades” (YUS, 2002 p.25 apud GUERREIRO, 2009), procurando restabelecer
as conexões de todas as esferas e dimensões da vida, estabelecendo conexões entre
pensamento linear e intuição; mente e corpo; o eu e a comunidade e a conexão
entre o eu e o Eu (eu superior, superconsciente etc.). Entende que “A educação
é crescimento, descoberta de uma vastidão de horizontes; é um envolvimento com
o mundo, [...]” (YUS, 2002 p.18 apud GUERREIRO, 2009) e nesse envolvimento a educação
das habilidades e educação da sensibilidade não atuam separadamente, mas
integradas porque “[...] Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades
são tolas e sem sentido.” (ALVES, 2008, p.75)
Não estragar as crianças é factível
se os educadores se desconectarem do paradigma cartesiano-newtoniano, que se
caracteriza pela separação mente-emoção, corpo-espírito, onde a hierarquização favorece
uma dimensão em detrimento da outra. Por exemplo, mente valorizada mais do que
o corpo ou a desvalorização das emoções e do espírito. Quando desconectados deste
modelo separatista, eles se sentirão inteiros para reencantar o mundo numa
escola de asa que ama pássaros em voo. Então, criança preciosa tornar-se-á
adulto precioso e consequentemente viveremos num planeta de grande valia.
Referências
ALVES,
Rubem. Ensinar, cantar, aprender; [
músicas de Marcilio Menezes] 1 ed. Campinas, SP: Papirus, 2008.
GUERREIRO,
Laureano. Educar para a condição humana.
1.ed. Lorena, SP: Editora Diálogos do Ser ,2009.
Marcia Eliane
Marcia Eliane