sábado, 30 de junho de 2012

Reencantar


Seminário XI Processos em Educação e Desenvolvimento: educar para a excelência humana
Laureano Guerreiro


Reencantar

Para as crianças tudo é espantoso:
um ovo, uma minhoca, [...], uma concha de caramujo,
 o voo dos urubus, os pulos dos gafanhotos,
uma pipa no céu, um pião na terra:
coisa que os olhos eruditos não veem. (Rubem Alves)

Do seminário Processos em Educação e Desenvolvimento: educar para a excelência humana, o facilitador alertou para a preciosidade que é a criança e que devemos estar atentos para não estragar o que ela é por si só.

             Criança é


Criança...
é um sentimento grátis
de felicidade!
Um jeito mágico
de tranquilidade.
Um toque clássico



Um jeito lúdico
de jogar o jogo cênico
da vida.
Criança é...
       chegar
           pular
               cantar...[...]
Alda Correa Mendes Moreira

Então, diante da preciosidade que é uma criança, lembrei-me do livro Ensinar, cantar, aprender de Rubem Alves (2008), que entende que educador é qualquer pessoa que ama criança e relata sobre a deformação que a escola pode imprimir nas crianças “[...] crianças nascem de madeira e só ficam de carne e osso depois de passar pela escola. Mas frequentemente acontece o contrario: nascem de carne e osso e ficam de madeira depois de passar pela escola.” (ALVES, 2008, p.68) “As pessoas nascem com os olhos maravilhados das crianças. Pela educação vão ficando cegas. [...]” (ALVES, 2008, p.29) O autor (2008) manifesta sua opinião sobre o resultado final da fase estudantil: “Parece que as escolas são máquinas de moer carne: numa extremidade entram as crianças, com suas fantasias e seus brinquedos. Na outra saem rolos de carne moída, todos iguais, prontos para o consumo, “formados” em adultos produtivos.” (ALVES, 2008, p.43) Compreende a palavra formar e desenformar assim “[...] formar é colocar na forma e fechar. [...] Educar é abrir. Educar é desenformar [...]” (ALVES, 2008, p.50)
O autor (2008) cita a existência de dois tipos de escolas: há escolas que são gaiolas e existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. “Pássaros engaiolados são pássaros sob controle.” (ALVES, 2008, p.11) Por outro lado, há escolas que são asas e amam pássaros em voo. Talvez essa escola se inspire na educação holística. Para Guerreiro (2009), a educação holística pretende realizar uma “revolução das sensibilidades” (YUS, 2002 p.25 apud GUERREIRO, 2009), procurando restabelecer as conexões de todas as esferas e dimensões da vida, estabelecendo conexões entre pensamento linear e intuição; mente e corpo; o eu e a comunidade e a conexão entre o eu e o Eu (eu superior, superconsciente etc.). Entende que “A educação é crescimento, descoberta de uma vastidão de horizontes; é um envolvimento com o mundo, [...]” (YUS, 2002 p.18 apud GUERREIRO, 2009) e nesse envolvimento a educação das habilidades e educação da sensibilidade não atuam separadamente, mas integradas porque “[...] Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido.” (ALVES, 2008, p.75)
Não estragar as crianças é factível se os educadores se desconectarem do paradigma cartesiano-newtoniano, que se caracteriza pela separação mente-emoção, corpo-espírito, onde a hierarquização favorece uma dimensão em detrimento da outra. Por exemplo, mente valorizada mais do que o corpo ou a desvalorização das emoções e do espírito. Quando desconectados deste modelo separatista, eles se sentirão inteiros para reencantar o mundo numa escola de asa que ama pássaros em voo. Então, criança preciosa tornar-se-á adulto precioso e consequentemente viveremos num planeta de grande valia.
Referências

ALVES, Rubem. Ensinar, cantar, aprender; [ músicas de Marcilio Menezes] 1 ed. Campinas, SP: Papirus, 2008.
GUERREIRO, Laureano. Educar para a condição humana. 1.ed. Lorena, SP: Editora Diálogos do Ser ,2009.




Marcia Eliane

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