terça-feira, 13 de março de 2012

A TRAJETÓRIA DA CONEXÃO DO PENSAR, SENTIR, VIVER E TRANSCENDER



a)            A ARTE DE VIVER EM PAZ: Lydia Rebouças. Março/2011
b)           CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: Taunay Daniel. Abril/2011
c)            DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS: Renata Carvalho L. Ramos. Maio/2011



A TRAJETÓRIA DA CONEXÃO DO PENSAR, SENTIR, VIVER E TRANSCENDER
 Momento presente: sob o domínio da holopráxis


Numa tentativa, aparentemente, caótica e angustiante de estruturar as principais idéias, percepções, sensações, informações, insights e experiências extraídas dos seminários acima, a partir de uma abordagem não tecnicista e burocrática do saber: eis aí, meu primeiro desafio e lição a ser aprendida.

Temos vivenciado na apreensão dos conteúdos tratados durante os seminários realizados, metodologias pouco convencionais, que seguramente a educação formal na qual a maioria de nós foi submetida, raramente experimentou.

Palavras como surpresa, espanto, encantamento, acolhimento, alegria, emoção, ternura, amorosidade, compartilhamento, música, poesia e dança, traduzem alguns dos sentimentos e práticas vividos durante os encontros, a partir dos quais a concretude de uma formação , de fato, holística, se materializa a cada instante.

Nessa avalanche meteórica de práticas experimentais, as proposições já consolidadas a respeito das formalidades de uma certificação acadêmica, acerca de um curso de pós-graduação como este, são desconstruídas diante do apelo constante e premente de um novo saber que pede passagem.
No decorrer da realização dos seminários pudemos vivenciar verdadeiras práticas de educação voltadas para o espírito, que segundo Yus (2002) correspondem à perspectivas de dimensões pessoais, subjetivas e qualitativas da experiência.

Portanto, as considerações que seguem abaixo, serão um primeiro ensaio desse vôo rasante, sem o manche do antigo avião com sua alta tecnologia de ponta e precisão, dando lugar a um balão multicolorido planando e seguindo seu rumo ao sabor dos ventos, aonde a poesia de uma tarde de outono é capaz de nos levar.

Ø            Primeira escala: O oráculo do anjo no “O Jogo da Transformação” e a “Carta do Insight”.

Após praticarmos um dia e meio de danças circulares reverenciando as memoráveis tradições de diversas culturas, no fim da jornada, na retirada do oráculo do anjo e da referida carta, as mensagens são as seguintes:

ü            Meu anjo é o da ABERTURA.
ü            Minha carta é “Você está sensível às suas necessidades emocionais. (ganhe 3 bônus de consciência).”

Diante de tais revelações, quais os possíveis mecanismos de auto-reflexão poderão ser acionados na tentativa de buscarmos elementos cognitivos e emocionais que possam clarificar essas mensagens?

Segundo Renata Ramos, as Danças Circulares permitem identificarmos o focus, que etimologicamente significa foco = fogo; o momento em que encontro meu fogo interior (Deusa Héstia, da mitologia grega).

Como acessar esse fogo interno para ser um focalizador da minha vida e poder levar para os demais essa mesma luz?

As Danças circulares possibilitam por meio das diversas intenções celebradas – Saudação, Encontros, Vida e Renascimento, Raízes, entre outras – identificar, sentir, manifestar e compartilhar o Fogo ou a luz interior presente em cada um nós e, expandirmos e irradiarmos esse fogo na união alegre a amorosa dividida com o outro.

A dança se transforma num elemento mediador, catalisador e portador do compartilhamento desse fogo interior pessoal integrado na união com o outro, através do círculo completo, único e perfeito do movimento da dança.

As DC carregam e sintetizam o DNA de todo universo, são universalmente viscerais, motivo pelo qual são de domínio público, sem direitos autorais.

Ao trabalharem o nível físico, emocional, mental e espiritual, nos mais diversos contextos sociais – educação, saúde, mundo corporativo – as DC possibilitam nos integrarmos e tornarmos natureza. Da união dessas ecologias – da pessoa e da natureza - brota a sensação de alegria e prazer proporcionados pelas DC.

Tivemos a alegria e o privilégio de sermos conduzidos nas seguintes DC:

§               Saudação:
ü            Enas Mythos – Grécia
§               Encontros e Vida:
ü            Shetland Weding Dance – Escócia
ü            Zigueneurpolka – Holanda
ü            Roda de Carambola – Brasil
§               Raízes:
ü            Escravos de Jó - Brasil
ü            Dança do Sol – Cantata de Bach
ü            Dança da Lua – Vivaldi
ü            Te ofereço Paz – Walter Pini
ü            Cuncti Simus Concanentes – Peregrinos Católicos
ü            Shalom Salam – Israel / EUA

Fazer essa escala nas DC representou uma jornada de intensa vivência em que a linguagem do corpo decodificada pela dança nos permitiu um contato interior pessoal, raro de sentirmos no cotidiano e, mais do que isso, a possibilidade de expandirmos essa sensação na integração com o outro, por meio da dança coletiva e circular.

Reflexão para a próxima escala: o que de VERDADE nos provoca o espanto e a grata surpresa de estarmos sendo realmente tocados seja por conhecimentos ou experiências que de fato nos atingem e transformam?


Ø            Segunda escala: O tédio enfadonho do discurso racional cientificista, pela lógica perfeita e precisa do discurso, cuja conclusão brilhante é um mergulho no vazio.

Nessa passagem, fomos convidados pelo Professor Taunay Daniel a pactuar com o Mito da Lâmpada de Aladim:
“Cada um de nós somos uma Lâmpada de Aladim. O problema é aonde a gente esfrega a lâmpada para o gênio se manifestar.”

O convite é feito numa roda formada pelo grupo, com uma vela acesa ao centro, sendo o fogo da vela a chama que deverá manter-se sempre acesa entre nós, por nos reconhecermos como seres em permanente processo de evolução. Seres inacabados, não nascidos prontos, que visualizam na chama da vela a virtude da humildade, da nossa ignorância perante a complexidade do universo e, por isso, da necessidade de estarmos dispostos à abertura do conhecimento do novo e desconhecido.

Dizer coisas que sejam capazes de despertar o gênio de cada um de nós, revela a questão proposta pelo referido mito que consiste no Conceito do Livre Arbítrio.

Em nossas aprendizagens ao longo da trajetória histórica de nossas vidas, o quanto nos permitimos, por meio do livre arbítrio, escolhermos o contato, ou ainda, o confronto com a luz e a sombra que nos acompanham?

Quanto tempo será que levaremos para diferenciar o essencial dos acessórios que  nos rodeiam e nos distraem, sobre qual a melhor e mais correta rota a ser seguida?

Segue, abaixo, trecho extraído de obra de John Main (2007), sobre essa questão:

O que lhes estou sugerindo é que existe um verdadeiro perigo para o homem religioso – e na verdade para todos os homens – de viver nossa vida voltados para proposições em lugar de aprofundar nossa atenção, de estarmos despertos para apreender e nos comprometermos com a verdade viva que nos torne autênticos. Há um perigo real para nós, homens religiosos, de nos tornarmos facilmente presunçosos e satisfeitos com nós mesmos, autocomplacentes ao repetirmos nossas fórmulas e credos. Como, por exemplo, um político pode satisfazer-se facilmente falando de liberdade, fraternidade e igualdade. E o resultado dessa intelectualização excessiva de nossa vida é que, em muitos casos, tornamo-nos apenas pessoas semivivas. Ou, para dizê-lo de um modo menos agradável, estamos semimortos. ...Ora, qual é o caminho para seguir em frente?” Pg. 32 e 33

Segundo declaração de Pierre Weil (1993), ele revela quais os caminhos na sua história pessoal foram buscados diante dessa questão e crise existencial:

Essas perguntas me levaram a procurar e encontrar caminhos para respostas e saída da crise. Resolvi fazer psicanálise no divã quatro vezes por semana a aprender a praticar yoga. Um caminho ocidental e um caminho oriental. ...Sai da minha crise, descobri minha vocação humanista na psicanálise, e na yoga, funções adormecidas me permitiram ver diferentemente a energia, o que mudou minha visão do lugar do ser humano no universo.” Pg. 102

Conforme relato feito por Taunay de um episódio de sua vida, passada em um ano de quase completa reclusão, numa pequena casa localizada nos recôndidos de uma floresta, as grandes obras, os clássicos ícones da literatura que compunham a maior parte de sua bagagem, ficaram na maioria intocáveis.

Na fantasia de acreditar que o tempo “sabático” lhe permitiria degustar essas obras, ao entrar em contato com seus conteúdos, percebeu por trás de tantas retóricas brilhantes e discursos logicamente perfeitos, a total ausência de algo essencial e indispensável a ser comunicado à sua alma humana.

De acordo com Taunay, um poeta tem muito mais competência para revelar a verdade do que um físico, porque a linguagem poética é metafórica – rica de significados – e a linguagem científica é técnica, pobre e limitada.

Diante dessas questões como compatibilizar uma aproximação possível entre a ciência e seu racionalismo científico, e a fé, a crença e a espiritualidade?

Segundo a Declaração de Veneza (em Weil, 1993) no seu item 2, encontramos:
O conhecimento científico, no seu próprio ímpeto, atingiu o ponto em que ele pode começar um diálogo com outras formas de conhecimento. Nesse sentido, e mesmo admitindo as diferenças fundamentais entre Ciência e Tradição, reconhecemos ambas em complementaridade, e não em contradição. Esse novo e enriquecedor intercâmbio entre ciência e as diferentes tradições do mundo abre as portas para uma nova visão de humanidade e, até, para um novo racionalismo, o que poderia induzir a uma nova perspectiva metafísica. Pg. 108

Nesse caldeirão de inquietações e perplexidades, o bom de ouvir e “reservar” são as dicas gastronômicas de uma sopa filosófica, em que seus ingredientes “humanos leguminosos” se misturam e se completam no aroma e sabor, constituindo aquilo que podemos denominar como nossa condição irremediavelmente humana, de seres gregários e dependentes uns dos outros, unidos pelo sal da vida, também conhecido como AMOR.

O amor incondicional que deve nos unir, nosso “Ágape”, como elemento fundamental para a instauração da Paz entre os homens.

E é nesse momento, que partiremos para nossa última escala.

Ø            Terceira Escala: A Arte de Viver em Paz como meta constante a ser perseguida em nossa condição humana planetária.

Pelas mãos habilidosas de Lydia Rebouças vivenciamos nesse seminário aquilo que podemos considerar o princípio, o meio e o fim de todo a caminho a ser trilhado em nossa formação holística.

A Arte de Viver em Paz, possível de ser alcançada por meio de movimentos integrados e convergentes, oriundos da ecologia interior, social e planetária, representam os elementos geradores da materialização da Paz no mundo.

A Paz resultante de um processo contínuo de Movimento e Inteireza, em que a origem de tudo se dá a partir da percepção e ação integrada do indivíduo na sua relação matéria – corpo, vida – emoções e inteligência - mente.

Segundo a UNESCO, “as guerras nascem na mente das pessoas; logo, é na mente das pessoas que devem ser erguidos os baluartes da Paz.”

Da fragmentação entre o indivíduo, a sociedade e a natureza nasce a fantasia da separatividade. Ao criarmos muros em torno de nós, nos fechamos em nossos castelos e nos separamos do outro e da natureza. Esse processo de isolamento proveniente dessa percepção fragmentada de si mesmo, nos separa de nós mesmos, da nossa essência.

Ao me separar do outro e da natureza, me separo de mim mesmo.

Como diz Weil (1993):

Assim, não pode haver verdadeira paz no plano pessoal quando se sabe que reinam a miséria e a violência no plano social ou que a natureza nos ameaça com a destruição porque nós a devastamos. pg. 37

Ainda, segundo Weil (1993):

As tradições espirituais são unânimes em afirmar que existem, em cada um de nós, funções ou qualidades emocionais diretamente responsáveis pela manutenção da paz interior, social e planetária, que podem se resumidas em:
1.             Alegria: somos feitos para viver a alegria, sobretudo, aquela que sentimos ao ver a felicidade alheia;
2.             Amor altruísta: definido pelo desejo de paz e felicidade estendido a todo mundo, seguido da ação que realizará essa meta;
3.             Compaixão: é o desejo de aliviar a dor do outro. Afinal como podemos viver em paz sabendo que existe sofrimento a nossa volta? pg. 74

Portanto, pensar globalmente e agir localmente, a partir de uma práxis integrada das ecologias interior, pessoal e planetária, nos afastando da inércia da “Roda da Destruição”, em que há ausência do espiritual permeando as relações existentes, representa nosso desafio e nossa meta de uma sobrevivência sã e pacífica no planeta.

Ø            Considerações finais: Retornando ao oráculo e à carta.

Após ter ousado realizar o vôo no balão multicolorido, ao sabor da direção dos ventos, com o receio de sucumbir ao caos no desenvolvimento das idéias e percepções aqui relatadas, fico com a prazerosa sensação de ter conseguido chegar nesta última página, após tantas incursões, mais que teóricas, eminentemente  existenciais e filosóficas.

E creio que assim deverão permanecer a ser: palavras e reflexões que façam sentido e eco na alma, rumo ao processo evolutivo de transformação interna, social e planetária.

O anjo da abertura e a carta de estar sensível às minhas necessidades emocionais me levam a crer e a corroborar o sentimento de estar seguindo o melhor e mais correto caminho a escolher.

Certamente, as escolhas resultantes dessa direção a ser seguida me renderão muito mais do que simples “03 bônus de consciência.”

Sob o domínio da práxis, porque a seleção dos conteúdos que alimentam nesse momento a minha alma está centrada nas experiências vividas pelo meu corpo e meu espírito. Elas decodificam significados simbólicos, repletos de revelações metafóricas e materiais que refletem diretamente na maneira pela qual venho conduzindo minha existência.

Citando, mais uma vez John Main (2007), para finalizar:

Certa vez perguntaram a Jung, numa entrevista, se acreditava em Deus. Jung fez pequena pausa de alguns momentos, respondendo em seguida com simplicidade e mansidão: “Não, eu conheço.” ...ao ler os salmos não os lemos ou memorizamos apenas, mas “apreendemos o seu sentido, não pela leitura do texto e sim pela experiência.”E o sentido das palavras da Escritura, diz ele, nos é revelado, não tanto por um comentário exegético, mas pelo que Cassiano denomina “prova prática”, pois nossa própria experiência revela as veias e a medula da Palavra de Deus.” pg 44

Usufruindo das benesses de uma formação holística, não há como resistir à oportunidade de sermos agraciados com a permissão de nos expressar através da arte.

Pela alegria, intensa emoção e crescimento interior promovidos pela condução magnânima de nossa querida Lydia Rebouças, descrevemos abaixo, a letra de música da minha autoria – “Olhos” – que pudemos compartilhar durante esse primeiro seminário.

Olhos

Olhos lindos olhos
Diga aos olhos do mundo quem sou
Olhos lindos olhos
Diga quem sou, a quem em ti for se mirar

Espelho d’alma
Exposto ao mundo exterior
Estrela matutina
Folha-corrida interior

Às vezes criança
Saltitantes, tão azuis
Às vezes serpente
Tão ardentes

Você é só contradição
Tradutor da emoção
Parece até camaleão

Azul mar quando alegres
Cinzento treva quando dor

Olhos, lindos olhos
Transparência plena do que sou.

Paz e Bem - Silvana Carolina Gorga de Cavero – junho/2011



Ø     Referências Bibliográficas

MAIN, Jonh. Meditação Cristã. São Paulo: Editora Paulus, 2007
WEIL, Pierre. A Arte de Viver em Paz. São Paulo: Editora Gente, 2003
YUS, Rafael. Educação Integral: uma educação holística para o século XXI. Trad. Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Editora Artmed, 2002

 Trabalho transdisciplinar 
Silvana Carolina Gorga - Carol 

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