a)
A ARTE DE VIVER EM
PAZ: Lydia Rebouças. Março/2011
b)
CIÊNCIA E
ESPIRITUALIDADE: Taunay Daniel. Abril/2011
c)
DANÇAS CIRCULARES
SAGRADAS: Renata Carvalho L. Ramos. Maio/2011
A
TRAJETÓRIA DA CONEXÃO DO PENSAR, SENTIR, VIVER E TRANSCENDER
Momento presente: sob o domínio da holopráxis
Numa tentativa, aparentemente, caótica e
angustiante de estruturar as principais idéias, percepções, sensações,
informações, insights e experiências extraídas
dos seminários acima, a partir de uma abordagem não tecnicista e burocrática do
saber: eis aí, meu primeiro desafio e lição a ser aprendida.
Temos vivenciado na apreensão dos conteúdos
tratados durante os seminários realizados, metodologias pouco convencionais,
que seguramente a educação formal na qual a maioria de nós foi submetida,
raramente experimentou.
Palavras como surpresa, espanto,
encantamento, acolhimento, alegria, emoção, ternura, amorosidade,
compartilhamento, música, poesia e dança, traduzem alguns dos sentimentos e
práticas vividos durante os encontros, a partir dos quais a concretude de uma
formação , de fato, holística, se materializa a cada instante.
Nessa avalanche meteórica de práticas
experimentais, as proposições já consolidadas a respeito das formalidades de
uma certificação acadêmica, acerca de um curso de pós-graduação como este, são
desconstruídas diante do apelo constante e premente de um novo saber que pede
passagem.
No decorrer da realização dos seminários
pudemos vivenciar verdadeiras práticas de educação voltadas para o espírito,
que segundo Yus (2002) correspondem à perspectivas de dimensões pessoais,
subjetivas e qualitativas da experiência.
Portanto, as considerações que seguem
abaixo, serão um primeiro ensaio desse vôo rasante, sem o manche do antigo
avião com sua alta tecnologia de ponta e precisão, dando lugar a um balão
multicolorido planando e seguindo seu rumo ao sabor dos ventos, aonde a poesia
de uma tarde de outono é capaz de nos levar.
Ø
Primeira escala: O oráculo do anjo no “O Jogo da
Transformação” e a “Carta do Insight”.
Após praticarmos um dia e meio de danças
circulares reverenciando as memoráveis tradições de diversas culturas, no fim
da jornada, na retirada do oráculo do anjo e da referida carta, as mensagens
são as seguintes:
ü
Meu anjo é o da
ABERTURA.
ü
Minha carta é “Você
está sensível às suas necessidades emocionais. (ganhe 3 bônus de consciência).”
Diante de tais revelações, quais os
possíveis mecanismos de auto-reflexão poderão ser acionados na tentativa de
buscarmos elementos cognitivos e emocionais que possam clarificar essas
mensagens?
Segundo Renata Ramos, as Danças Circulares permitem
identificarmos o focus, que
etimologicamente significa foco = fogo; o momento em que encontro meu fogo
interior (Deusa Héstia, da mitologia grega).
Como acessar esse fogo interno para ser um
focalizador da minha vida e poder levar para os demais essa mesma luz?
As Danças circulares possibilitam por meio
das diversas intenções celebradas – Saudação, Encontros, Vida e Renascimento,
Raízes, entre outras – identificar, sentir, manifestar e compartilhar o Fogo ou
a luz interior presente em cada um nós e, expandirmos e irradiarmos esse fogo
na união alegre a amorosa dividida com o outro.
A dança se transforma num elemento
mediador, catalisador e portador do compartilhamento desse fogo interior
pessoal integrado na união com o outro, através do círculo completo, único e
perfeito do movimento da dança.
As DC carregam e sintetizam o DNA de todo
universo, são universalmente viscerais, motivo pelo qual são de domínio
público, sem direitos autorais.
Ao trabalharem o nível físico, emocional,
mental e espiritual, nos mais diversos contextos sociais – educação, saúde,
mundo corporativo – as DC possibilitam nos integrarmos e tornarmos natureza. Da
união dessas ecologias – da pessoa e da natureza - brota a sensação de alegria
e prazer proporcionados pelas DC.
Tivemos a alegria e o privilégio de sermos
conduzidos nas seguintes DC:
§
Saudação:
ü
Enas Mythos – Grécia
§
Encontros e Vida:
ü
Shetland Weding Dance – Escócia
ü
Zigueneurpolka – Holanda
ü
Roda de Carambola – Brasil
§
Raízes:
ü
Escravos de Jó - Brasil
ü
Dança do Sol – Cantata de Bach
ü
Dança da Lua – Vivaldi
ü
Te ofereço Paz – Walter Pini
ü
Cuncti Simus Concanentes – Peregrinos Católicos
ü
Shalom Salam – Israel / EUA
Fazer essa escala nas DC representou uma
jornada de intensa vivência em que a linguagem do corpo decodificada pela dança
nos permitiu um contato interior pessoal, raro de sentirmos no cotidiano e,
mais do que isso, a possibilidade de expandirmos essa sensação na integração com
o outro, por meio da dança coletiva e circular.
Reflexão para a próxima escala: o que de
VERDADE nos provoca o espanto e a grata surpresa de estarmos sendo realmente
tocados seja por conhecimentos ou experiências que de fato nos atingem e
transformam?
Ø
Segunda escala: O
tédio enfadonho do discurso racional cientificista, pela lógica perfeita e
precisa do discurso, cuja conclusão brilhante é um mergulho no vazio.
Nessa passagem, fomos convidados pelo
Professor Taunay Daniel a pactuar com o Mito da Lâmpada de Aladim:
“Cada um de nós somos uma Lâmpada de
Aladim. O problema é aonde a gente esfrega a lâmpada para o gênio se
manifestar.”
O convite é feito numa roda formada pelo
grupo, com uma vela acesa ao centro, sendo o fogo da vela a chama que deverá
manter-se sempre acesa entre nós, por nos reconhecermos como seres em
permanente processo de evolução. Seres inacabados, não nascidos prontos, que
visualizam na chama da vela a virtude da humildade, da nossa ignorância perante
a complexidade do universo e, por isso, da necessidade de estarmos dispostos à
abertura do conhecimento do novo e desconhecido.
Dizer coisas que sejam capazes de despertar
o gênio de cada um de nós, revela a questão proposta pelo referido mito que
consiste no Conceito do Livre Arbítrio.
Em nossas aprendizagens ao longo da
trajetória histórica de nossas vidas, o quanto nos permitimos, por meio do
livre arbítrio, escolhermos o contato, ou ainda, o confronto com a luz e a
sombra que nos acompanham?
Quanto tempo será que levaremos para diferenciar
o essencial dos acessórios que nos
rodeiam e nos distraem, sobre qual a melhor e mais correta rota a ser seguida?
Segue, abaixo, trecho extraído de obra de
John Main (2007), sobre essa questão:
O que
lhes estou sugerindo é que existe um verdadeiro perigo para o homem religioso –
e na verdade para todos os homens – de viver nossa vida voltados para
proposições em lugar de aprofundar nossa atenção, de estarmos despertos para
apreender e nos comprometermos com a verdade viva que nos torne autênticos. Há
um perigo real para nós, homens religiosos, de nos tornarmos facilmente
presunçosos e satisfeitos com nós mesmos, autocomplacentes ao repetirmos nossas
fórmulas e credos. Como, por exemplo, um político pode satisfazer-se facilmente
falando de liberdade, fraternidade e igualdade. E o resultado dessa
intelectualização excessiva de nossa vida é que, em muitos casos, tornamo-nos
apenas pessoas semivivas. Ou, para dizê-lo de um modo menos agradável, estamos
semimortos. ...Ora, qual é o caminho para seguir em frente?” Pg. 32 e 33
Segundo declaração de Pierre Weil (1993),
ele revela quais os caminhos na sua história pessoal foram buscados diante
dessa questão e crise existencial:
Essas
perguntas me levaram a procurar e encontrar caminhos para respostas e saída da
crise. Resolvi fazer psicanálise no divã quatro vezes por semana a aprender a
praticar yoga. Um caminho ocidental e um caminho oriental. ...Sai da minha
crise, descobri minha vocação humanista na psicanálise, e na yoga, funções
adormecidas me permitiram ver diferentemente a energia, o que mudou minha visão
do lugar do ser humano no universo.” Pg. 102
Conforme relato feito por Taunay de um
episódio de sua vida, passada em um ano de quase completa reclusão, numa
pequena casa localizada nos recôndidos de uma floresta, as grandes obras, os
clássicos ícones da literatura que compunham a maior parte de sua bagagem,
ficaram na maioria intocáveis.
Na fantasia de acreditar que o tempo
“sabático” lhe permitiria degustar essas obras, ao entrar em contato com seus
conteúdos, percebeu por trás de tantas retóricas brilhantes e discursos
logicamente perfeitos, a total ausência de algo essencial e indispensável a ser
comunicado à sua alma humana.
De acordo com Taunay, um poeta tem muito
mais competência para revelar a verdade do que um físico, porque a linguagem
poética é metafórica – rica de significados – e a linguagem científica é
técnica, pobre e limitada.
Diante dessas questões como compatibilizar
uma aproximação possível entre a ciência e seu racionalismo científico, e a fé,
a crença e a espiritualidade?
Segundo a Declaração de Veneza (em Weil,
1993) no seu item 2, encontramos:
O
conhecimento científico, no seu próprio ímpeto, atingiu o ponto em que ele pode
começar um diálogo com outras formas de conhecimento. Nesse sentido, e mesmo
admitindo as diferenças fundamentais entre Ciência e Tradição, reconhecemos
ambas em complementaridade, e não em contradição. Esse
novo e enriquecedor intercâmbio entre ciência e as diferentes tradições do
mundo abre as portas para uma nova visão de humanidade e, até, para um novo
racionalismo, o que poderia induzir a uma nova perspectiva metafísica. Pg. 108
Nesse caldeirão de inquietações e
perplexidades, o bom de ouvir e “reservar” são as dicas gastronômicas de uma
sopa filosófica, em que seus ingredientes “humanos leguminosos” se misturam e
se completam no aroma e sabor, constituindo aquilo que podemos denominar como
nossa condição irremediavelmente humana, de seres gregários e dependentes uns
dos outros, unidos pelo sal da vida, também conhecido como AMOR.
O amor incondicional que deve nos unir,
nosso “Ágape”, como elemento fundamental para a instauração da Paz entre os
homens.
E é nesse momento, que partiremos para
nossa última escala.
Ø
Terceira Escala: A
Arte de Viver em Paz como meta constante a ser perseguida em nossa condição
humana planetária.
Pelas mãos habilidosas de Lydia Rebouças
vivenciamos nesse seminário aquilo que podemos considerar o princípio, o meio e
o fim de todo a caminho a ser trilhado em nossa formação holística.
A Arte de Viver em Paz, possível de ser
alcançada por meio de movimentos integrados e convergentes, oriundos da
ecologia interior, social e planetária, representam os elementos geradores da
materialização da Paz no mundo.
A Paz resultante de um processo contínuo de
Movimento e Inteireza, em que a origem de tudo se dá a partir da percepção e
ação integrada do indivíduo na sua relação matéria – corpo, vida – emoções e
inteligência - mente.
Segundo a UNESCO, “as guerras nascem na
mente das pessoas; logo, é na mente das pessoas que devem ser erguidos os
baluartes da Paz.”
Da fragmentação entre o indivíduo, a
sociedade e a natureza nasce a fantasia
da separatividade. Ao criarmos muros em torno de nós, nos fechamos em
nossos castelos e nos separamos do outro e da natureza. Esse processo de
isolamento proveniente dessa percepção fragmentada de si mesmo, nos separa de
nós mesmos, da nossa essência.
Ao me separar do outro e da natureza, me
separo de mim mesmo.
Como diz Weil (1993):
Assim,
não pode haver verdadeira paz no plano pessoal quando se sabe que reinam a
miséria e a violência no plano social ou que a natureza nos ameaça com a
destruição porque nós a devastamos. pg. 37
Ainda, segundo Weil (1993):
As
tradições espirituais são unânimes em afirmar que existem, em cada um de nós,
funções ou qualidades emocionais diretamente responsáveis pela manutenção da
paz interior, social e planetária, que podem se resumidas em:
1.
Alegria: somos
feitos para viver a alegria, sobretudo, aquela que sentimos ao ver a felicidade
alheia;
2.
Amor altruísta:
definido pelo desejo de paz e felicidade estendido a todo mundo, seguido da
ação que realizará essa meta;
3.
Compaixão: é o
desejo de aliviar a dor do outro. Afinal como podemos viver em paz sabendo que
existe sofrimento a nossa volta? pg. 74
Portanto, pensar globalmente e agir
localmente, a partir de uma práxis integrada das ecologias interior, pessoal e
planetária, nos afastando da inércia da “Roda da Destruição”, em que há
ausência do espiritual permeando as relações existentes, representa nosso
desafio e nossa meta de uma sobrevivência sã e pacífica no planeta.
Ø
Considerações
finais: Retornando ao oráculo e à carta.
Após ter ousado realizar o vôo no balão
multicolorido, ao sabor da direção dos ventos, com o receio de sucumbir ao caos
no desenvolvimento das idéias e percepções aqui relatadas, fico com a prazerosa
sensação de ter conseguido chegar nesta última página, após tantas incursões,
mais que teóricas, eminentemente existenciais
e filosóficas.
E creio que assim deverão permanecer a ser:
palavras e reflexões que façam sentido e eco na alma, rumo ao processo
evolutivo de transformação interna, social e planetária.
O anjo da abertura e a carta de estar
sensível às minhas necessidades emocionais me levam a crer e a corroborar o
sentimento de estar seguindo o melhor e mais correto caminho a escolher.
Certamente, as escolhas resultantes dessa
direção a ser seguida me renderão muito mais do que simples “03 bônus de
consciência.”
Sob o domínio da práxis, porque a seleção
dos conteúdos que alimentam nesse momento a minha alma está centrada nas
experiências vividas pelo meu corpo e meu espírito. Elas decodificam
significados simbólicos, repletos de revelações metafóricas e materiais que
refletem diretamente na maneira pela qual venho conduzindo minha existência.
Citando, mais uma vez John Main (2007),
para finalizar:
Certa
vez perguntaram a Jung, numa entrevista, se acreditava em Deus. Jung fez pequena
pausa de alguns momentos, respondendo em seguida com simplicidade e mansidão:
“Não, eu conheço.” ...ao ler os salmos não os lemos ou memorizamos apenas, mas
“apreendemos o seu sentido, não pela leitura do texto e sim pela experiência.”E
o sentido das palavras da Escritura, diz ele, nos é revelado, não tanto por um
comentário exegético, mas pelo que Cassiano denomina “prova prática”, pois
nossa própria experiência revela as veias e a medula da Palavra de Deus.” pg 44
Usufruindo das benesses de uma formação
holística, não há como resistir à oportunidade de sermos agraciados com a
permissão de nos expressar através da arte.
Pela alegria, intensa emoção e crescimento
interior promovidos pela condução magnânima de nossa querida Lydia Rebouças,
descrevemos abaixo, a letra de música da minha autoria – “Olhos” – que pudemos
compartilhar durante esse primeiro seminário.
Olhos
Olhos
lindos olhos
Diga
aos olhos do mundo quem sou
Olhos
lindos olhos
Diga
quem sou, a quem em ti for se mirar
Espelho
d’alma
Exposto
ao mundo exterior
Estrela
matutina
Folha-corrida
interior
Às
vezes criança
Saltitantes,
tão azuis
Às
vezes serpente
Tão
ardentes
Você
é só contradição
Tradutor
da emoção
Parece
até camaleão
Azul
mar quando alegres
Cinzento
treva quando dor
Olhos,
lindos olhos
Transparência
plena do que sou.
Paz e Bem - Silvana Carolina Gorga de
Cavero – junho/2011
Ø Referências Bibliográficas
MAIN, Jonh. Meditação Cristã. São Paulo: Editora Paulus, 2007
WEIL, Pierre. A Arte de Viver em
Paz. São Paulo : Editora Gente, 2003
YUS, Rafael. Educação Integral: uma educação holística
para o século XXI. Trad. Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Editora Artmed,
2002
Silvana Carolina Gorga - Carol
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