terça-feira, 13 de março de 2012

A TRAJETÓRIA DO AUTOCONHECIMENTO A CAMINHO DA CURA FÍSICA E ESPIRITUAL: A SAÚDE DO CORPO E DA ALMA EM BUSCA DA PLENITUDE



a)     A ARTE DE VIVER CONSCIENTE (Seminário 4) – Elizabeth Richard. Junho/11
b)     O FEMININO E A CURA (Seminário 5) – Dr. Eliezer Berenstein. Julho/11
c)      TRADIÇÃO SAGRADA ANCESTRAL BRASILEIRA (Seminário 6) - Kaká Werá Jacupé. Agosto/11

A TRAJETÓRIA DO AUTOCONHECIMENTO A CAMINHO DA CURA FÍSICA E ESPIRITUAL: A SAÚDE DO CORPO E DA ALMA EM BUSCA DA PLENITUDE
I. O fio condutor regente dos três seminários

Perseguindo a alegoria do balão multicolorido – utilizada no primeiro trabalho - que sobrevoa a esfera terrestre em vôos rasantes e, com a constante sensação de ser guiado ao sabor dos ventos, nos aventuramos, mais uma vez, na difícil tarefa de elaborarmos este relatório a partir de uma perspectiva holística de nosso processo de ensino-aprendizagem.

Retomando os conteúdos expressos nos três seminários, identificamos um fio condutor que permeia as diferentes abordagens, a partir do qual definimos o título deste trabalho; traduzindo: ao percorrermos uma trajetória evolutiva na busca e conquista do autoconhecimento acessamos a possibilidade da cura de nossas doenças do corpo e da alma.

Ø      Se partirmos da questão essencial que gerou o nascimento do Seminário “A Arte de Viver Consciente” expressa pela inquietude de Weil em responder a seguinte pergunta: “QUAL O SENTIDO DA VIDA”; localizamos no símbolo mais arcaico da história da humanidade representado pela Esfinge uma possível explicação.

A esfinge clássica composta de quatro partes: o boi, o leão, a águia e a cabeça humana, representa as funções básicas constituintes da estrutura do ser humano e seus respectivos estágios evolutivos.
Essa estrutura, considerada como uma escada de ascensão, segundo Weil, é constituída pelos seguintes elementos:
ü      os instintos, ligado ao corpo físico e suas sensações;
ü      as emoções, ligada aos sentimentos e afetos;
ü      a mente, ligada ao sistema intelectual, pensamentos, imaginação e criatividade;
ü      a consciência, como expressão do espírito
Correlacionando a figura da esfinge com a estrutura evolutiva humana, constatamos as respectivas significações:
ü     o Boi, representa os instintos localizado no abdômen, pernas e pés;
ü     o Leão, representa as emoções, localizada no nível do coração, tórax, braços e mãos;
ü     a Águia, representa a mente e as funções intelectuais;
ü     a Cabeça Humana, representa a consciência, localizada em cima da fronte.

Há, ainda, outro elemento, a Serpente a qual se situa no nível da testa, que simboliza a energia, a vida que circula nas diferentes partes da esfinge, consiste no “diretor de cena” que nos permite transmutar ou evoluir dos níveis mais densos do boi, do leão ou da águia para o nível da consciência plena ou transpessoal.

Ø      Ao sobrevoarmos o Seminário “O Feminino e a Cura” observamos, dentre os temas tratados, a contextualização da Medicina na visão ocidental a partir da análise comparativa do juramento de Hipócrates (377 a. C.) e da Oração do Médico, segundo Rambam (Maimônides – Córdoba – 1135), em que o primeiro revela a onipotência do médico diante do processo de cura do paciente e, o segundo, o reconhecimento do poder de cura do paciente através da capacidade do corpo integrar “inumeráveis forças que trabalham incessantemente como tantos instrumentos, de modo a preservar em sua integridade esta linda casa que contem sua alma imortal.”

O foco desse seminário busca resgatar a visão de cura e saúde a partir de uma abordagem integral do ser humano e, especificamente, da mulher na integração e harmonia de sua inteligência hormonal, racional, emocional e social.

Ø      Ao aterrissarmos no Seminário “A tradição Sagrada Ancestral Brasileira” nos defrontarmos com a afirmativa de Kaká Werá que o fundamental para conquistarmos o autoconhecimento e a plenitude da saúde mente-corpo consiste no reconhecimento de dois aspectos essenciais do Homem diante de sua existência:
ü      Honrar os ancestrais: representados pelas ancestralidades:
§  Divina (mundo de cima)- Nhamandú: o imanifestável, o Grande Mistério, o Silêncio Luminoso que se desdobra e se manifesta como Kuaracy – a clara luz, o sol, a emanação luminosa que se desdobra em Tupã: expressão vibratória, o Verbo Criador que cria o mundo através da vibração, do Som. Essa tríade representa a dimensão ancestral divina identificada como a dimensão do ESPÍRITO. Tupã que se desdobra em quatro, passa a constituir a próxima dimensão;
§  Anímica (mundo do meio): responsável pela modelagem do comportamento e representada pelos elementos da natureza – nandejará - e suas respectivas energias: Fogo(Karai), Água(Iacy), Terra(Tupancy) e o Ar (Jakairá). Dessa dimensão surgem os reinos vegetal, animal, mineral e humano, donde deste último resulta a última ancestralidade;
§  Biológica (mundo debaixo): representada por Tupy, primeiro ser humano e, por todos os antepassados que constituem a árvore genealógica humana. Em síntese, nossos ancestrais encontram-se representados pelo Espírito (Nhamandú-Kuracy e Tupã), Alma (Fogo-Karai, Água-Iacy, Terra-Tupancy e Ar-Jakairá) e Corpo (Ser humano, na figura do primeiro homem – Tupy)
ü      Reconhecer a Lei da Interdependência: regida pelo princípio que tudo está ligado a tudo, ou ainda, onde tudo e todos no planeta interferem direta ou indiretamente no desenrolar das respectivas existências.

Portanto, partindo de uma abordagem analítica e associativa das principais idéias e mensagens apresentadas nos três seminários, visualizamos uma convergência e completude entre eles que nos remete a um fio condutor que os une e sintetiza, podendo ser assim descrito:
Ø      O desenvolvimento evolutivo humano quanto à capacidade do homem em apreender a compreensão de si mesmo, deve reconhecer os princípios de sua ancestralidade, a partir dos quais se torna possível a percepção integrada da sua natureza humana alicerçada em sua dimensão divina, anímica e física. As questões envolvendo a saúde, a doença e os mecanismos de cura, somente poderão ser compreendidas e alcançadas por meio de uma consciência plena e aberta na assunção da verdadeira realidade cósmica a qual pertencemos.

II. Paralelos interessantes: falando das mesmas coisas de jeitos diferentes

Ø      Referente aos conteúdos abordados nos seminários 5 e 6, nos chamou a atenção sobre a similaridade entre as diferenças funcionais resultantes do padrão Yin feminino e Yang – masculino de comportamento e a base conceitual do entendimento do IAÔ, como sendo o espírito de vida que se aloja no ser, onde cada um de nós é uma vibração e emanação em relação ao espírito do sol.

Nesse cenário, nos deparamos com as seguintes constatações:
§   Padrão Yin e Yang de comportamento:
ü     Yin - feminino                                    Yang - masculino
ü     Contrátil                                            Expansivo
ü     Conservador                         Exigente
ü     Receptivo                                         Agressivo
ü     Cooperativo                          Competitivo
ü     Intuitivo                                              Racional
ü     Sintético                                            Analítico
§   Na Tradição Tupy somos um raio emanado do sol representado por uma parte masculina em nosso espírito – o IAÔ – que tem como reflexo uma contraparte feminina chamada AVÁ. Essas duas partes complementares são regidas por uma energia feminina – KAT’MIÊ e outra masculina – WAK’MIÊ. A energia feminina é representada pela umidade, noite, luar, inverno e mulher; a masculina por tudo que é seco, verão, dia, sol, claridade e homem. IAÔ e AVÁ em harmonia estão relacionados com o fluxo de energia livre entre o Céu e a Terra – como numa passagem bíblica: “reconcilia-te com o céu e a terra e tudo será resolvido.”

Ø      Da similaridade entre os chacras hindus e os ieres, representados pelo poder da vibração da emanação de um som na Tradição Tupy, denominado TAROVÁ.
§   O TAROVÁ é constituído de 7 centros ou sons, sendo:
ü      1 = Y (pisão no pé), vogal que representa o centro da terra, raiz;
ü      2 = Û (útero) representa a água e o centros emocionais  - sensação;
ü      3 = O (plexo acima do umbigo e abaixo do coração), representa o fogo -  emoção;
ü      4 = A (região do coração) representa o ar – pensamento;
ü      5 = E, representa a essência anímica ligada à simbologia da lua que é a essência feminina, comunicação e expressão da alma.
ü      6 = I (base da nuca) energia de irradiação, sol, caixa de ressonância;
ü      7 = (coronário) som unaudível, aquieta o parakaó (fala interna contínua, “papagaio interior”), visualiza cor ou intento – paz, saúde e boas energias.
ü      8 = o APYTÉ (um palmo acima do sétimo som) = cocar espiritual, estrela guia, é a aura resultante da soma de todos sons.
ü      Quando entoadas em conjunto, essas vogais emanam vibrações constituindo sílabas sagradas que arejam e revitalizam o organismo humano promovendo saúde.
ü      Síntese: Y=Terra, U=Água, O=Fogo, A=AR, E=Lua, I=Sol
Ø      A formação da consciência na Tradição Tupy, assim como para a ciência da psicologia é constituída pela intuição, pensamento, sentimento e sensação, sendo que a cada um deles corresponde um elemento da natureza, a saber:
ü      Intuição = Fogo
ü      Pensamento = AR
ü      Sentimento = Água
ü      Sensação = Terra

III. Considerações Finais
A viagem traçada pelo mapa da existência representa um longo e complexo percurso a seguir, senão pelo tempo cronológico dessa duração incerta, seguramente pela extensão, profundidade e intensidade das experiências e conhecimentos a serem adquiridos e vivenciados.
Na condição de observadores e aprendizes da própria existência, com qual porção de consciência realmente passamos por ela? Quais são as ondas eletroencefalográficas que imperam e preponderam ao longo de nossas vidas?
Passamos boa parte de nosso tempo acordados, no estado de consciência de vigília – ondas beta/rápidas, entretanto, na realidade distraídos em devaneios e quimeras perdidos no tempo passado ou futuro, mas raramente atentos ao momento presente.
Quando sonhamos – ondas alfa e teta , mais lentas, estamos dormindo e movimentando os olhos, mas não raras vezes, não lembramos do que sonhamos.
E o que dizer do sono profundo – reparador – sem sonho, ondas delta muito lentas que tão bem fazem à saúde e, que para muitos, só se torna uma experiência possível quando ninados ao som de antidepressivos e outras drogas soníferas.
Mas o nosso maior sonho, enquanto grande desejo a ser alcançado, é o estado de consciência chamado de superconsciência ou transpessoal que consiste estarmos operando em ondas delta, as do sono profundo, porém, em estado de vigília. Este é estado provado pelos grandes mestres, santos, yogues e praticantes assíduos e experientes das práticas meditativas.
E assim, entre atos e percalços, nos perguntamos quanto aos diferentes estados de nossa consciência:
Vigília, o quanto de ti já desperdicei por não estar atenta ao momento presente reconhecendo os sinais da linguagem sutil da existência e fazendo do aqui e agora a grande oportunidade de exercitar meu livre arbítrio fazendo as melhores e mais acertadas escolhas?
Sonho, o quanto de ti já perdi não fixando as revelações da reedição de experiências passadas e possibilidades de premonição das futuras, pela desimportância de estar em ti atenta ou pela fadiga extenuante do cotidiano?
Sono profundo, o quanto a ti já desejei para recuperar minhas forças, saúde e energia e só pude, muitas vezes encontrá-lo, na farmacologia destinada a aliviar minha dores crônicas, do corpo e da alma?
Ah..... superconsciência o quanto ainda te busco e hei de encontrar nas minhas persistentes investidas das aulas de yoga e da tão difícil disciplina da prática meditativa.
E assim vamos vivendo e caminhando através de nossos estados “normais” ou alterados de consciência.
Porém, sempre nos questionando de como podemos viver plenamente esses diferentes estados absorvendo o máximo de suas experiências ao vivê-los no tempo devido atribuído a cada um deles – nosso presente, passado e futuro.
Como adquirirmos um estado de sanidade física e mental num mundo repleto de disfunções e desarmonias que clamam por adoecimento, insanidade e inundam nossos olhos e mentes com os apelos mercadológicos e miraculosos da indústria farmacêutica que fabrica doenças que não existem e agravam as já existentes?
Como disse nossa mestra Betinha, temos que despertar, acordar enquanto há tempo, pois a vida não avisa: im–provisa. Há premência em nos conduzirmos como peixes capazes de enxergar os princípios de nossa gênese: o oceano; e cometermos a ousadia de enxergar nossa vida possível, além do paredão de vidro – aquário, para nos descobrirmos como seres concebidos para a unicidade, totalidade e transpessoalidade, o que também, pode ser sinônimo de entes capazes de operarem suas próprias curas e milagres.
Reverenciar nossos antepassados, perdoá-los e destituí-los das energias negativas e destrutivas que nos faz adoecer.
Saber reconhecer e espantar nossos algozes e monstros representados na tradição indígena pelos: Anguery (bloqueio mental, idéias fixas obstrutivas e maus pensamentos), Atsyguá (alimentar mágoas e sentimentos que fazem mal à saúde), Karon (espírito gerado pela energia de antepassados que atraem obsessores dominados pela tristeza, dor, depressão ou vícios), Makú (formado por um conjunto de maus hábitos e traços de personalidade danosos) e Mamaé (energia de uma intenção forte arremessada de alguém contra nós).

       Perseverarmos nas práticas que nos conduzem à transpessoalidade como processo curativo, segundo trechos abaixos, extraídos da Carta da Escola Internacional da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã:

Se estivermos no caminho do autoconhecimento é importante fazer diariamente, alguma prática para ir eliminando tudo o que faz mal e, assim, dar espaço ao pensamento do criador para ir se iluminando, ser melhor direcionado, melhor concentrado, melhor irradiado. Por isso, todas as tradições sagradas no oriente e no ocidente, possuem técnicas de meditação, de interiorização para que se possa trabalhar melhor o poder da criação que está vibrando através de você, pois se você não fizer isso, alguém vai fazer.
E, ainda, outro trecho que vale a pena transcrevê-lo:
Quando entramos no silêncio desse modo profundo, um diferente caminho de conhecimento é ativado: deixamos para trás nossa consciência puramente racional e lógica, e começamos a entender as coisas com um tipo de conhecimento intuitivo mais elevado, direto e imediato, a que os primeiros teólogos frequentemente denominavam 'Os Olhos do Coração'.  Ganhamos o acesso à profunda fonte interior da verdadeira visão, a consciência de Cristo em nosso coração. Quanto mais penetramos o silêncio e a imobilidade da meditação, mais clara se torna nossa compreensão intuitiva. Nós apenas 'sabemos'. Isso irriga nossa vida diária e, passamos a seguir, cada vez mais, a voz de nossa intuição.
Orígenes, um dos Padres da Igreja primitiva, foi quem primeiro mencionou os sentidos interiores. Ele dizia haver cinco outros sentidos, em adição aos nossos sentidos físicos comuns. A alma também tem sua visão, seus ouvidos, seu paladar, seu olfato e seu tato.
Todo o propósito da meditação é o de acordar esses sentidos. Ao trazer então a mente para o coração, nosso eu racional não mais dominará nosso ser, mas nosso eu intuitivo, nosso verdadeiro eu, pode infundir o ego, o eu racional, e os dois serão lentamente integrados. Então, passamos a ser verdadeiramente inteiros. Agora, passamos a lembrar quem realmente somos. A meditação nos ajuda a experimentar Cristo como uma forca viva em nós, energizando, curando, transformando, levando-nos a uma maior consciência, integridade e compaixão.
É importante lembrarmos que isso não é algo apenas para a elite; isso faz parte de nossa natureza humana. Um das pedras fundamentais da psicologia junguiana é a de que existe uma tendência intrínseca para a plenitude e, para a integração, no interior da psique de todas as pessoas, que também foi trazida à luz por essa citação de Santo Agostinho:
“Todo o propósito dessa vida é o de restaurar a saúde dos olhos do coração, por meio dos quais Deus pode ser visto”.

Diante de tanta beleza e sabedoria expressas nos trechos acima, só nos resta concluir clamando ao Criador de tudo e de todas as coisas que nos conceda um coração sempre atento para a vidência e o esplendor da vida, eternamente vocacionada para o amor, alegria e compaixão. Vida na saúde, vida na doença, porém, sempre vicejante e plena do SER em Deus.

Ø      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Escola Internacional - Comunidade Mundial para a Meditação Cristã

JACUPÉ, Kaká Werá. Texto : A Árvore Ancestral – Ecomedicina Tupy

WEIL, Pierre. A arte de viver a vida. 2. Ed. Brasília: Letrativa Editorial, 2004. Pg 39 a 55.



Silvana Carolina Gorga - Carol
Setembro-2011

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