a) A ARTE DE VIVER EM PLENITUDE (Seminário 7)
– Dalila Lubiana – setembro/11
b) TRANSDISCIPLINARIDADE
(Seminário 8) – Maria F. d Mello –
outubro/11
A
TRAJETÓRIA DO AUTOCONHECIMENTO: PERCORRENDO OS CAMINHOS DA TRANSDISCIPLINARIDADE
NO DESVENDAMENTO DE SI, DO OUTRO E DA NATUREZA, RUMO À PLENITUDE.
I.
Introdução
Segundo a filósofa e pensadora
contemporânea Marilena Chauí em explanação realizada no programa “Café
Filosófico” da TV Cultura no dia 04 do corrente mês, o grande desafio do
professor atual diante do aluno é despertar o seu desejo em aprender,
considerando de um lado, os múltiplos apelos e estímulos da internet, do
ciberespaço, da cibernética, do mundo digital WEB e, de outro, o microcosmo
físico da sala de aula e as tradicionais e mais usuais ferramentas de
ensino-aprendizagem, convencionalmente representadas pelo “cuspe e giz” do
intrépido professor.
Conforme a pensadora, são inúmeros os
benefícios oferecidos pela internet como um recurso tecnológico altamente
eficiente no fornecimento abundante e atualizado de notícias e informações que
permeiam o universo científico, cultural e artístico, por meio de um simples
click instantâneo; trata-se do acesso universal ao saber, sem limitações de
fronteiras espaço-temporais, acessível a todos os internautas incluídos na
realidade digital.
Porém, qual a questão crucial a ser colocada
diante desse cenário? Informações, notícias, saberes abundantes, atualizados e
irrestritos são sinônimos de conhecimento, ou ainda, daquilo que Chauí nomeia
de trabalho do pensamento?
O trabalho do pensamento, segundo a
pensadora, requer para ser construído lentidão, paciência, muito suor e sangue
movido pelo intenso e permanente desejo de desvelar a realidade.
Traduzindo em miúdos, o desafio ímpar do
professor consiste em sua maestria e habilidade na regência de seu ofício ou
“estado da arte” de colocar diante do aprendiz o binômio articulador e
responsável pelo ato genuíno de aprender a pensar e gerar conhecimento: a
constatação de dois pólos presentes e atuantes nesse processo contínuo e
permanente:
- Em um dos pólos o desejo do aprendiz em
descobrir algo novo e desconhecido, o estado de mostra-ser constantemente
curioso, frequentemente provocado em sua inteligência e, noutro, o risco em
reconhecer e em aprender a lidar com o fato de saber-se e sentir-se eternamente
ignorante diante da complexidade e dos mistérios do universo.
Portanto, ao professor/educador do século
XXI caberá identificar e aproveitar as brechas propiciadas pela tecnologia da
informação para encantar, envolver e seduzir o aprendiz ao convite do trabalho
de pensar. Tornar a ferramenta digital num aliado e não num vilão, num
artifício construtivo, provocativo e significativo para o aluno na aquisição de
conhecimentos e experiências relevantes no ato de aprender e, sobretudo, também
ensinar àquele que ensina.
Um breve intervalo, antes de continuarmos,
para fazer a perguntar que não quer calar: por que tive um impulso quase que
automático em abrir este relatório com essa questão?
Seguramente, em primeiro lugar, porque a
angustia desse professor que ainda não sabe como seduzir seu aluno de outra
forma, se não aquela expressa pela frase clássica da cartilha “Caminho Suave”:
“ A pata nada na lagoa”, é a mesma da minha em sempre tentar redigir este
relatório pelo desafio da abordagem TransD, que não aquela meramente
reprodutiva de conteúdos a serem transcritos.
Sendo assim, caberá a mim, a partir da
escolha dessa introdução, percorrer os mesmos árduos caminhos a serem
desvendados pelo heróico professor.....
II.
Plenitude e transdisciplinaridade, relação
complementar, dialética e dialógica do caminhar peregrino.
Considerando os dois seminários assistidos sobre “A
Arte de Viver em Plenitude” e a “Transdisciplinaridade”, o sub-título acima,
intenciona realizar uma ponte entre os dois temas, adotando como argumentação
inicial a introdução apresentada, em que a figura e o papel do
professor/educador representa, a nosso ver, a síntese da discussão a ser
desenvolvida.
Inicialmente, destacamos os conceitos abaixo:
Ø
“Plenitude é um estado de alma em que o ser humano se
sente completamente realizado, em que ele se sente completo, em que ele se
sente pleno. É um estado de plena realização de todo o nosso potencial.” Pierre Weil
Ø
“A Transdisciplinaridade, como o prefixo “trans”
indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas,
através das diferentes e além, de qualquer disciplina. Seu objetivo é a
compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do
conhecimento.” Basarab Nicolescu
Na perspectiva de nossa formação holística na UNIPAZ
somos convidados a explorar os níveis da ecologia pessoal (interior ou
intrapessoal), da ecologia social (interpessoal, intergrupal, internacional) e
da ambiental (fantasia da separatividade e da impermanência da natureza).
Na ecologia pessoal abordamos “A arte de viver
consciente” e a “Arte de viver em Plenitude”; na social “A arte de viver em
harmonia” e “A arte de viver em conflito” e, na ambiental “A arte de viver a
natureza” e a “A arte de viver a passagem”.
Segundo a “Mensagem de Vila Velha/Vitória no II
Congresso Mundial de Transdisciplinaridade /2005, nas considerações
apresentadas relativas às questões sociais, éticas, psicológicas, espirituais,
políticas, econômicas e ambientais na contemporaneidade, nos deparamos diante
de uma complexidade e seriedade sem precedentes.
Diante da atual situação conjuntural, as posições
assumidas nessa Mensagem foram estruturadas em torno de três eixos:
Ø
Atitude Transdisciplinar: busca a compreensão da complexidade do nosso
universo, das relações entre os sujeitos, dos sujeitos consigo mesmos e com os
objetos que os circundam, visando resgatar o sentido da relação enigmática do
ser humano com a Realidade – aquilo
que pode ser concebido pela compreensão humana – e o Real - como referência absoluta da verdade e sempre velada.
Trata-se de uma atitude que a partir da articulação de todos os saberes
contidos nas ciências, nas artes, na filosofia, nas tradições sapienciais e na
experiência busca uma compreensão e percepção ampliada da realidade e da
relação da realidade com o real;
Ø
Pesquisa Transdisciplinar: pressupõe a pluralidade dos saberes e uma
integração de processos complementares, dialéticos e dialógicos emergentes da
pesquisa e que possibilitam a apreensão do conhecimento através de um sistema
aberto;
Ø
Ação Transdisciplinar: propõe a articulação do ser humano na sua relação
com o mundo (ecoformação), com os outros (hetero ou co-formação), consigo mesmo
(autoformação), com o ser (ontoformação) e com o conhecimento formal e não
formal. Intenciona a mediação de conflitos, a prática pacífica e colaborativa
entre as pessoas e as diferentes culturas, porém, nunca desconsiderando as
contradições e valorização da expressão de suas particularidades.
Perseguindo o fio condutor delineado na
introdução deste relatório, afirmamos que o trabalho de pensar e gerar
conhecimento são fruto da conexão, da interação e associação de diferentes e
relevantes informações capazes de desvendar e dar luz à compreensão de uma
realidade.
A flagrante constatação realizada a
partir da sobreposição da proposta de nossa formação holística na UNIPAZ e dos
eixos em que a referida Mensagem foi estruturada, na qual inclusive,
recomenda-se a criação de programas universitários de graduação,
especialização, mestrado e doutoramento para o estudo da transdisciplinaridade,
nos proporciona o prazer descrito pela possibilidade da descoberta, ao corroborarmos,
através das conexões feitas, a existência do alinhamento, coerência, convergência
e obediência aos princípios da TrasnD no processo de nossa formação: como seres
individuais, sociais e cósmicos unidos ao universo.
Aprofundando, ainda um pouco mais essas
inter-relações, resgatamos a figura e o papel do professor/educador, segundo a
definição de Barbier, que diz:
“Ele é esse ser consciente e lúcido que
se apóia sobre o conhecimento de si, experiencialmente assumido, para acolher o
saber dos outros, o benefício da dúvida, e o fazer frutífero.”; ou ainda:
“O educador torna-se um barqueiro (o
que define o senso de direção), um articulador de finalidades (em ciência, arte
e espiritualidade)... que disjunta o que está confuso e religa aquilo que está
separado. Ele possui eminentemente o sentido da unidiversidade e da
complexidade humana...”
Diante desses conceitos apresentados por
Barbier sobre o educador, ele o considera, a partir da sua constituição básica
alicerçada sobre o conhecimento experiencial de si mesmo, sempre
“potencialmente um homem de desafio antes de ser um ser de mediação.”
Conforme Barbier, ao visualizarmos a
figura do educador através da metáfora do “barqueiro de sentido/direção,
significado e sensação” e de defini-lo como “homem de desafio”, entendemos que
a essência desse desafio consiste na habilidade do educador criar a passagem,
de forma criativa e compreensível, do universo da racionalidade científica para
o da não-racionalidade, que não se trata de uma irracionalidade, mas à abertura
do conhecimento de si mesmo, “atualizado
pela experiência espiritual ou pela experiência artística e poética. Em outros
termos, precisamos de barqueiros de sentido entre Einstein e São João da Cruz.”
Retomando, em contrapartida, os conceitos
do seminário “A arte de viver em plenitude, sobre os seguintes pontos de vista:
Ø
Do destino:
a partir da missão de cada um de nós e de nossa vocação pessoal e profissional;
Ø
Da existência: através dos diferentes períodos da infância, juventude, maturidade e
terceira idade; e do ciclo dos 10 setênios – 07,14,21,28,35,42,49,56,63 e 70;
Ø
Da realização do potencial energético: por meio dos sete
níveis energéticos ou chacras: segurança, prazer, poder, amor, inspiração,
conhecimento e transpessoalidade;
Ø
Da referência do masculino e feminino em nós mesmos.
Interligando essas perspectivas do viver em plenitude
com os princípios da Transdisciplinaridade enquanto Atitude, Ação e Processo de
Desvelamento da
Realidade ou Pesquisa Transdisiciplinar, partimos para as considerações finais guiados ao sabor do TUDO JUNTO E MISTURADO, trilhando da forma mais fiel possível os rigores de nossa formação TransD.
Realidade ou Pesquisa Transdisiciplinar, partimos para as considerações finais guiados ao sabor do TUDO JUNTO E MISTURADO, trilhando da forma mais fiel possível os rigores de nossa formação TransD.
III.
Considerações Finais
Iniciaremos este bloco a partir do título do item
acima, nomeado: Plenitude e
transdisciplinaridade: relação complementar, dialética e dialógica do caminhar
peregrino.
Ao considerarmos a plenitude como a plena realização
de nosso potencial e ao identificarmos na postura TransD diante da vida, a
busca permanente de todos os saberes, experiências e sensações que nos levam à
amplificação da realidade e a uma maior compreensão do real – com todas as suas
contradições, complementaridades e diálogos possíveis - podemos construir , por
meio desses dois conceitos, a seguinte metáfora:
Colocar-se diante das afirmativas acima, nos remete à
imagem do peregrino em contraposição à figura do turista; pois o peregrino é
aquele que busca incessantemente a revelação de si e de tudo que o circunda
durante a trajetória dos percursos, agregando ao longo da viagem os saberes,
significados e sensações resultantes da somatória evolutiva e interconectada de
todos os acontecimentos que o impactam.
O turista, diferentemente, registra de forma
literalmente fotográfica e fisicamente fragmentada e impessoal os diferentes
trechos do percurso, compondo de maneira aleatória um patchwork de acontecimentos a ser, posteriormente, arquivado na
memória digital de uma mídia tecnológica qualquer.
O peregrino grava a memória do seu diário de bordo na
alma e no coração processando incontáveis metanóias na sua historicidade; o
turista grava as imagens de sua câmera digital num arquivo de seu computador,
colecionando um conjunto de pastas virtuais isoladas e distintas para
localizá-las num click instantâneo quando delas quiser lembrar.
Na metáfora do peregrino, meu olhar espelha a
metáfora do barqueiro. Peregrino e barqueiro, artífices e atores atuantes de um
mesmo palco e espetáculo: O desvelar da Vida.
Ser peregrino ou barqueiro representa ser o Homem no
sentido do gênero Humano, atuando em tempo integral e contínuo como a figura do
educador de si mesmo e da humanidade. Um ser potencialmente vocacionado a
enfrentar desafios, antes mesmo de mediar conflitos.
Assim como um aprendiz de mágico – Homem
peregrino e barqueiro- me percebo a cada passo em que avanço nos
truques e macetes da mágica a ser aprendida – Homem educador - que ao
fazer surgir a pomba branca que voa aos olhos da plateia a partir do nada ou do
vazio – a Realidade – posso me encantar e ser seduzida pela ilusão ou
milagre do aparentemente impossível, mas que também pode acontecer – os
mistérios do universo.
Isso tudo me inspirou a concluir com a música:
Bijuterias – João Bosco
Se Vênus
Virá alguém
Eu sou de Virgem
E só de imaginar
Me dá vertigem
Minha pedra é ametista
Minha cor, o amarelo
Mas sou sincero
Necessito ir
Urgente ao dentista
Tenho alma de artista
E tremores nas mãos
Ao meu bem mostrarei
No coração
Um sopro e uma ilusão
Eu sei
Na idade em que estou
Aparecem os tiques
As manias
Transparentes
Transparentes
Feito bijuterias
Pelas vitrines
Da Sloper da alma
Curiosidade de aprendiz: O significa a expressão
“Da Sloper da alma”
Carlos Leonam e Ana Maria Badaró
Sociedade
22.05.2009 15:51
Da ‘sloper’ da alma
No Centro da Cidade. Pegue a Rua Gonçalves Dias, dobre a
Ouvidor à esquerda, saia na Uruguaiana e se depare com a loja que abrigou a Casa
Sloper, hoje ocupada por uma rede de roupas populares, um tanto sufocante e
poluída, com aquele mau gosto dos que copiam toscamente tudo o que está na
moda. Onde foi parar o brilho das bijuterias e do imenso lustre de cristal que
pendia do teto de um pé direito altíssimo, circundado por um jirau?
Os berloques dourados da Sloper eram tão objetos de desejo de
senhoras e senhoritas elegantes que inspiraram os versos finais de Bijuterias,
música de João Bosco: ”Transparentes, feito bijuteria da Sloper da Alma”. A
canção fez sucesso como tema da novela “O Astro” (1977/78), de Janete Clair, em que Francisco Cuoco
era um vidente de araque.
Numa interpretação livre, a expressão bosquiana “sloper da alma”
sugere um estado de espírito elevado, o mesmo que tomava conta dos cariocas,
que iam às compras ou levavam os filhos para passear no Centro, no tempo em que
a arquitetura urbana, ainda ordenada, lembrava Paris.
Tanto que, mais adiante, ainda na Ouvidor, esquina do Largo de São Francisco, as madames da
alta sociedade tinham também a Notre Dame de Paris, palco de um delicioso conto
de Joaquim Manuel de Macedo, em que um casal de noivos se perdia (perder,
perder mesmo) naquela “loja de modas” (sic), considerada imensa, um
magazin como a Printemps parisiense. Imagine se o escritor fluminense
tivesse conhecido uma loja como a antiga Mestre & Blatgé, a Mesbla, na Rua
do Passeio, em plena
Cinelândia.
A Sloper era a uma loja de departamento compacta também nos moldes
europeus. E à altura do ambiente fino e perfumado se comportavam as balconistas
da loja, mesmo que de origem humilde, em seus uniformes e penteados impecáveis.
Muitas meninas que iam à loja acompanhadas de suas mães tinham como projeto
trabalhar na Sloper quando crescessem. Na seção de maquiagem, as clientes sentavam-se
em frente ao balcão e a atendente criava, com acuidade, uma cor personalizada
de pó- de-arroz para cada cútis. Vangarde em customização?
Um presente da Sloper era garantia de bom gosto para uma classe
média ainda cheia de esperança. Além de acessórios, o magazine vendia
cosméticos, vestuário feminino, masculino e infantil, roupa de cama e mesa,
brinquedos, cristais e objetos de decoração. E o seu elevador quase
transparente de portas douradas era uma espécie de nave sideral segura, subindo
e descendo. Ai, ai. Quem ainda pegou a loja em seus tempos áureos, sabe que
entrar lá era uma viagem para crianças e adultos.
Na zona norte do Rio, a loja tinha
filiais menos charmosas, mas igualmente simbólicas, na Tijuca e no Méier. Na
Bahia era o point mais porreta das madames soteropolitanas, no endereço da
famosa Rua Chile, 21, no centrão de Salvador.
A Sloper de Copacabana, na Nossa Senhora de Copacabana, esquina
com Raimundo Correa, teve um melhor destino que a do Centro e virou uma
livraria. Nem isso cura a nostalgia de quem, desavisadamente, caminha pela área
da Rua Uruguaiana e é capturado pela estupefação da realidade. Fonte: Google
IV.
Referências
Bibliográficas
BARBIER,
René. O Educador como quem passa sentido.
Congresso Internacional de Locarno, Suiça, 1997. CIRET/UNESCO
Mensagem
de Vila Velha /Vitória. II Congresso Mundial de Transdisciplinaridade. 06 a 12 de setembro de 2005 –
Brasil
NICOLESCU,
Basarab. O Manifesto da
Transdisciplinaridade. São Paulo: Editora TRIOM, 1999.
WEIL,
Pierre. A Arte de Viver a Vida. 2ª
edição; Brasília: Letraviva Editorial, 2004, pág. 63 a 101.
Silvana
Carolina Gorga – Carol
16
de dezembro de 2011
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